Uma das mais importantes revistas médicas do mundo, The Lancet, realizou um levantamento sobre o Alzheimer e outras demências, procurando fatores  de risco para estas doenças, pois a maior parte delas pode ser minimizada com mudanças ambientais e comportamentais, passo significativo para diminuir o avanço desses males neurodegenerativos.

O levantamento identificou os fatores de risco para demências: baixo nível educacional; colesterol alto; consumo excessivo de álcool; depressão; diabetes; falta de atividade física; falta de contato social; hipertensão; lesões graves na cabeça; obesidade; perda de audição; perda de visão; poluição do ar; tabagismo.

É fácil ver que a maior parte dos riscos envolvem maus hábitos desenvolvidos ao longo da vida, que podem ser alterados por um maior nível de conhecimento, uma maior educação, e esta é, não por coincidência, a primeira necessidade para diminuir o risco de doenças mentais.

Isso comprova que a educação está presente em todos os momentos na vida de qualquer ser humano, inclusive naqueles em que cuidamos de nossa saúde; e mostra que a interação entre as pessoas envolvidas dentro do contexto educativo, e de todos com o meio que nos cerca, podem prover a modificação de ambas as partes.

Educarmo-nos para a saúde é um campo multifacetado, pois são diversas as compreensões do mundo, e atualmente marcadas por distintas posições político-filosóficas e partidárias, com deficiente articulação de saberes técnicos e populares e mobilização de recursos comunitários, públicos e privados, de diversos setores, para o enfrentamento e a resolução dos problemas que nos afligem.

Aprender sobre doenças, como evitá-las, os seus efeitos sobre a saúde e, principalmente, como efetuar um bom restabelecimento quando a perdemos, inclui os fatores sociais, os tipos de hábitos que representam perigo e os motivos pelos quais saúde e bem-estar são construídos socialmente.

Apenas um bom processo educativo nos orienta quanto a um conceito de saúde ampliado, estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, integrando aspectos físico e mental para ausência de enfermidades, os cuidados ambientais e emocionais, que ao lado dos manejos ecológicos de preservação da natureza podem mudar os paradigmas que levaram ao adoecimento.

No entanto, a educação para a saúde também inclui políticas públicas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços de saúde disponíveis a uma boa parte da população, os quais, ao lado dos tratamentos clínicos e curativos, solidariedade e cidadania, orientam ações cuja essência melhora o conhecimento de si mesmo e a qualidade de vida.

Cuidar da saúde consiste nas atividades dirigidas centralmente à transformação dos comportamentos, focando estilos de vida e mudanças familiares, mas também no ambiente das culturas da comunidade, pois muitas glorificam atividades como excesso nas bebidas, a violência e os demais comportamentos de risco.

Dentre os fatores de risco para Alzheimer levantados pela Lancet, observamos outro: falta de contato social. Embora os demais sejam tão graves quanto esse, e alguns talvez mais, o isolamento social é causa e consequência de muitos. A pessoa que se isola, por escolha, falta de escolha ou doença mental, tende a ser autorreferente, perdendo a noção de como é vista pelos demais, daí o agravamento do consumo descontrolado de álcool e drogas, o tabagismo, a falta de atividade física, e por fim a obesidade, o colesterol alto, a diabetes e a depressão.

O truísmo muito repetido “o homem é um ser social” tem sua razão de ser: somos gregários, precisamos uns dos outros, para apoio, ajuda, elogios e crítica. A solidão, embora desejável e benéfica por vezes, não é a condição ideal do ser humano.

Colocar crianças e jovens na escola providencia não apenas conhecimento, mas também amigos e parceiros de brincadeiras, auxiliando a aprendizagem de convivência e a saúde mental.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.