Na mitologia grega, e por extensão no teatro e filosofia gregos, a deusa que simboliza o equilíbrio, a vingança divina e o destino é Nêmesis, uma das filhas da deusa Nix, a noite. Temida por mortais e imortais é quem abate a desmesura, o excesso de felicidade e orgulho, e está na essência do espírito helênico:  

Tudo que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo o equilíbrio universal e, por isso, tem de ser castigado, se pretende que o universo se mantenha como é”.

A própria Bíblia judaico-cristã ressalta que “o orgulho precede a queda”.

Por milênios sobrevivemos em condições desfavoráveis, desastres naturais, fomes, pestes, guerras; estivemos em luta praticamente em pé de igualdade com centenas de outras espécies pelo espaço e alimento. Com o uso da fala, ferramentas e armas, obtivemos uma vantagem competitiva essencial, o início da civilização, para o bem e para o mal.

Aos poucos dominamos todo o meio ambiente, venceríamos a fome e a doença se a isso nos dedicássemos com afinco, mas parecemos preferir nossas pequenas realizações egoístas. Acreditamos que somos mesmo donos deste mundo e que podemos dispor de seus recursos da maneira que nos convier, indiferentes aos demais e às espécies animais e vegetais com quem dividimos o planeta e de cuja existência somos muito mais dependentes do que podemos crer. Ainda não entendemos que a extinção de muitas espécies pode acarretar a nossa; e embora a mais conhecida de todas seja a dos dinossauros, ocorrida há 66 milhões de anos e que eliminou 75% de todos os animais existentes, pela fascinação de todas as crianças – e mesmo os adultos – por esta fase, que é a mais recente na história geológica do planeta, houve na Terra várias outras extinções em massa.

Uma delas, estima-se que tenham sido cinco, ocorreu no período entre 264 milhões e 259 milhões de anos atrás, conhecido como Capitaniano, no estágio Permiano, de acordo com artigo publicado na revista especializada Earth and Planetary Science Letters.

Nele morreram possivelmente 81% das espécies marinhas e 70% das espécies de vertebrados terrestres, e é considerada a maior catástrofe que já ocorreu na superfície terrestre e, como algumas outras, foi provocada por erupções de vulcões, que aqueceram os oceanos por meio de gases de efeito estufa, causando a “hipóxia oceânica” — ou seja, o lento sufocamento das espécies maiores porque sua refeição habitual foi sufocada e morreu também.

Os pesquisadores acreditam que aquecimento semelhante está acontecendo hoje por causa de eventos humanos, pela liberação de carbono na atmosfera.

Definitivamente, e talvez em consequência do negativismo generalizado e desprezo pela ciência que tem reinado em muitos países, não estamos conseguindo levar muito a sério esta possibilidade, pois ela implica em algumas alterações de nosso estilo de vida, deixando-a menos confortável no momento. Deixar, ou pelo menos diminuir bastante, transportes individuais optando pelos coletivos, desperdiçar menos água e alimentos, reciclar mais intensivamente o lixo que geramos, tudo isso implica em ser um pouco menos egoísta e autocentrado, não é simples para a maioria.

No entanto, é cada vez mais importante reforçar a necessidade da conservação de biodiversidade, sobretudo nos trópicos, onde encontramos dois terços das espécies da Terra, e para isso é essencial estudar a forma de adaptação das espécies às mudanças climáticas.

Escolas de todos os níveis têm se preocupado em ensinar aos alunos que animais hoje presentes no planeta foram aqueles melhor adaptados às mudanças climáticas, e que com a acelerada marcha de extinção provocada pelas atividades humanas, há uma limitação dos processos evolutivos para adaptação às mudanças climáticas, em função principalmente daquelas resultantes do aquecimento global e destruição da camada de ozônio.

Não temos ainda clareza das consequências, imprevisíveis mas certamente catastróficas e que poderão comprometer a manutenção da biodiversidade, e nelas poderá estar incluída a própria espécie humana.

Cientistas afirmam que entre 1500 e 1850, em função da raça humana foi eliminada uma espécie animal a cada dez anos, entre 1850 e 1950, uma por ano. No entanto, desde 2010 desaparecessem onze espécies por dia, e depois de 2020 a estimativa é da extinção de  uma espécie por hora.

Estima-se também que entre 1975 e 2010 desapareceram 29% de todas as espécies de vida, e  o processo de desaparecimento está acelerando-se em ritmo veloz.

Com a finalidade de alimentar, de prover segurança e transporte para os seres humanos, alteramos ecossistemas inteiros, empregamos excesso de fertilizantes e inseticidas, despejamos esgotos domésticos e industriais nos rios e mares, causando o desaparecimento dos animais e vegetais que neles vivem.

Nêmesis observa e espera, mas não para sempre…

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.