As datas e épocas de festas são importantes inclusive para marcar a passagem do tempo. Sentimos isso de duas maneiras: a que compreende as datas inscritas no calendário, as efemérides; e a natural, na qual o tempo é fluido, está ligado ao movimento da Terra em torno do Sol.

Como navegantes em mares desconhecidos, precisamos de pontos de referência para saber onde estamos, para onde ir, e como. Para isso criamos calendários, os povos que atingiram certo nível de civilização tiveram em suas realizações a escrita e a contagem do tempo e da sua passagem; maneira de organizar a própria vida social e produtiva, com as estações de plantio e colheita, de seca e de enchentes.

A tradição das festas juninas vem da antiguidade, desde tempos remotos, e era parte dos rituais de celebração do término da colheita e da passagem para o verão no hemisfério norte, que corresponde ao nosso inverno. Esta celebração prevenia a esterilidade da terra, a boa conservação dos cereais e afastava estiagens; faziam-se grandes fogueiras, até como forma de descarte às “palhas” não aproveitáveis.

A Igreja Católica assumiu as festas, autorizando-as como homenagem aos Santos Antônio, João e Pedro, comemorados no mês de junho. No início as festas denominavam-se “joaninas” como referência a São João, aos poucos passaram a chamar-se “juninas”, e atualmente prolongam-se no mês de julho para aproveitar as férias escolares, chamando-se então “julinas”.

Praticam-se de certa forma, os rituais ligados ao fogo como fogueiras, tornando-as algumas das mais antigas e populares tradições da religiosidade.

No Brasil, esta tradição também é bastante antiga, aparecendo desde o início de nossa história, no século XVI, e desde cedo assumiu um caráter de festividade própria da zona rural.

Interessante que nelas a “cerimônia de casamento” esteve presente em praticamente todos os lugares, normalmente na noite de São João, com “padre”, pais dos noivos, padrinhos, fogueira e convidados. Pesquisadores sempre registraram que inclusive no início do século XX, as casas mais requintadas acendiam fogueiras em seus quintais nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, incorporando as peculiaridades do mundo rural.

Aos poucos, festas juninas foram migrando para clubes, ou sendo realizadas por grandes corporações, com finalidades turísticas, e no Nordeste brasileiro essas festas competem com o carnaval, e até o superam, com grande rivalidade entre cidades. Campina Grande, na Paraíba, é considerada a maior do país, mas enfrenta rivais de peso como Mossoró no Rio Grande do Norte, Caruaru em Pernambuco, e São Luís no Maranhão com a tradição do Bumba-meu-boi.

As escolas, igrejas e clubes promovem suas festas, sempre com comidas especiais da época, pinhão, batata doce, milho, amendoim, queima de fogos, e quando o adensamento urbano não era tão grande, balões de ar quente, hoje perigosos e proibidos por apresentar risco de incêndio e perturbação à navegação aérea.

Em escolas, tais festas passaram a ser realizadas depois da década de 1950, e foram incorporadas ao planejamento didático, oportunidade de comemorar, no calendário escolar, junto aos familiares dos estudantes, atraindo pais, mães e amigos para dentro do ambiente pedagógico, o que sempre foi considerado bom para a melhoria dos índices de permanência do aluno no ambiente educacional. Festas juninas propiciam o desejável diálogo da instituição escolar com a comunidade de seu entorno.

Ensaiar as danças típicas, montar as diversas barraquinhas, fazer as caracterizações de caipiras, vender pipocas, bolo de milho, pamonhas e outros doces costuma unir estudantes e professores, criando laços de afetividade em torno do objetivo de produzir uma boa festa, o que é produtivo no processo de ensino e aprendizagem, já que boas emoções facilitam a boa cognição.

Tais festas, além do aspecto lúdico, permitem até hoje que escolas arrecadem somas que, embora não muito altas, permitem financiar alguns projetos, já que costuma ser insuficiente os recursos repassados por Estado ou Prefeituras, e permitir alguma autonomia financeira.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.