Lacração, likes e lucro

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Conforme ficou bem visível nesta última campanha política, e como infelizmente tenderemos a continuar vendo nas próximas, candidatos de grande sucesso obtiveram visibilidade através da “lacração”, obtendo likes em redes sociais, que aumentaram o número de seus “seguidores”, assim auferindo o maior lucro possível, não apenas em votos mas também em resultados financeiros de médio ou grande porte, arrecadando  financiamentos, vendendo consultorias, cursos e mesmo alguns produtos.

Lacrar é palavra existente na língua portuguesa, porém uma língua varia ao longo do tempo, passando por mudanças muitas vezes radicais, palavras que até cem anos atrás tinham certo significado, atualmente podem assumir o exato oposto daquela época; o verbo lacrar, que originalmente significa selar, fechar com lacre ou então fechar completamente, vem ganhando outra definição principalmente em ambientes virtuais, com a acepção de arrasar, obter vitória ou sucesso sobre alguém.

Nas redes sociais, uma espécie de estrutura que conecta pessoas, instituições ou grupos, evidentemente a linguagem é o principal mecanismo de conexão, já que elas se formam, se mantêm e se propagam digitalmente pela utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação.

Tais redes tem se revelado ideais para obtenção de lucro, referencial para o processo decisivo dos agentes que a utilizam e um indicador de sucesso das empresas ou pessoas que sabem, no mais das vezes intuitivamente, como lidar com elas. O lucro financeiro, aumento importante do valor do patrimônio, é rápido e parece mover-se bem com notícias falsas, agressividade e péssimas intenções, mas permite avaliar tendências futuras de comportamento das grandes massas.

Assim, nem sempre um bom acesso à televisão ou mídia impressa terminou sendo fundamental para o sucesso de candidatos a cargos eletivos, sendo significativa a quantidade de influencers eleitos para a vereança de cada cidade em todo o país, pessoas com imenso número de seguidores de suas redes sociais, de assuntos dos mais disparatados aos mais comuns possíveis.

A grande maioria é constituída por aqueles que, na linguagem dos mais jovens, causam, ou seja, provocam espanto, assombro ou perturbação entre seus seguidores, mesmo – ou principalmente – quando envolvem mentiras ou distorções da verdade.

Candidatos contemplados com grandes verbas partidárias algumas vezes não lograram êxito, mas personagens populares, mesmo praticamente sem um orçamento expressivo, alcançaram votantes sem serem particularmente brilhantes como oradores ou possuindo habilidade de concatenar frases.

Esta tendência tem assustado analistas, acadêmicos ou não, e é considerada perigosa para o estabelecimento de sociedades verdadeiramente democráticas. Professores, em particular, se preocupam com a tendência dos votos de protestos, dos votos “contra tudo isso que aí está”, oferecidos muitas vezes a pessoas despreparadas e aventureiras.

A tendência de escolher aqueles de comportamento mais errático, de frases mais agressivas e que chegam às portas da falta total de educação  parece indicar a não valorização das profissões mais voltadas ao conhecimento, e o endeusamento daquelas dedicadas ao simples exercício da opinião, mesmo quando esta não tem a menor vinculação com a realidade, o que desestimula o estudo.

O custo da ignorância é imenso, populações desinformadas e desinteressadas pelo conhecimento sempre foram presa fácil para espertalhões, demagogos e coisa pior. Pode parecer, em nosso tempo de busca de resultados materiais rápidos e fáceis, que estes substituam a verdadeira materialidade existencial, trazendo realização constante em sua fatuidade; a grande frustração que parece acometer aqueles “bem sucedidos” quando em determinadas etapas de sua existência contemplam o que denominam seu “legado” e veem nada mais do que alguns bens e muitas pessoas que deles se aproximam movidas apenas por interesse, é o exemplo maior deste fato.

Precisamos recuperar o caminho do bom senso e da valorização da ciência.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.