Mulheres e eleições

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Durante debate eleitoral recente, candidato machista e retrógrado afirmou, se referindo a uma candidata mulher, que “mulher não vota em mulher, a mulher é inteligente”.

Logo após, afirmou também que pessoas mais pobres ou os negros também não votam em seus representantes; tudo isso motivado pela afirmação da candidata que, vendo a baixaria em que estava se transformando aquele que deveria ser um momento de exposição de projetos e intenções futuras, afirmou ser aparentemente a única “adulta da sala”.

Isso provocou risos e perplexidade: “Olha só que surpresa, justamente a mulher no debate é a adulta da sala. Olha só que surpresa”.

No Brasil, existe uma percepção arraigada de que o poder é destinado aos homens, e esta apreensão não é apenas ideológica, mas também emocional. As emoções de ódio expressas nas redes sociais das candidatas do sexo feminino tem sido frequentes, e mostram claramente os repertórios de hábitos, competências e estilos dos agressores, demonstrando os compromissos cognitivos, emocionais e até morais de fazer cumprir as normas estabelecidas e evitar transgressões como o empoderamento dos grupos tradicionalmente invisibilizados.

Todas essas expressões violentas realçam no seu arcabouço a presença do medo e da raiva, e medo é a emoção mais comum e poderosa a uma ameaça iminente; raiva influencia o julgamento e decisões, levando a julgar o pior sobre os demais, e até a agressões.

Por isso, mulheres não são sub-representadas apenas no momento das eleições. Além de enfrentarem barreiras para serem eleitas, elas enfrentam dificuldades nas suas atuações, poucas ocupam cargos mais influentes dentro das comissões do Congresso ou presidem bancadas, além de restrições às suas falas. A elas são destinadas também as comissões consideradas de “menor prestígio”, vinculadas a temas considerados femininos, como educação. Exceção notável, que confirma a regra, é a ocupante de uma das comissões mais importantes, a de Constituição e Justiça, embora diga-se que ocupa este cargo na “cota” da oposição e supostamente teleguiada por interesses diversos.  

Existe sim uma divisão sexual da política, assim como  a divisão sexual do trabalho, raros homens são responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidado, fazendo com que mulheres possuam menos tempo para participar de atividades políticas e reuniões partidárias, e mesmo considerando que mulheres brancas muitas vezes tem o privilégio de contar com a mão de obra de mulheres negras para realizar as tarefas domésticas, o que produz a quase total ausência de mulheres negras nas instituições de representação, ainda assim a participação feminina na política brasileira é pequena.

A representação política é composta em sua maioria por homens, brancos e ricos, o que não reflete a composição da população brasileira e nem sua diversidade de perspectivas. No âmbito econômico, cultural e político temos uma perpetuação dos estereótipos iniciados na infância, cabendo às meninas bonecas e brinquedos de cozinha, enquanto os meninos recebem jogos de aventura e ação, para desenvolver as habilidades indispensáveis ao espaço público.

No entanto, se ao adentrar no espaço político elas reproduzem caracteres associados à feminilidade como delicadeza, sensibilidade e altruísmo, são vistas como pessoas incompetentes para assumirem cargos políticos; se estão adequadas para as qualidades associadas à masculinidade como assertividade, racionalidade e objetividade, são declaradas menos mulheres, quando não recebem adjetivos depreciadores.

A democracia ideal seria aquela em que o voto de cada cidadão refletisse sua escolha, pessoal, ideológica, filosófica, política enfim; e não identidades forçadas de gênero, de cor, de religião, normalmente imposta por populismos.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.