De forma geral, a ignorância de fatos básicos da ciência produz cidadãos crédulos e ingênuos, aptos a aceitar fatos pseudocientíficos, que muitas vezes são prejudiciais a si mesmos e à sociedade.

O cidadão bem informado pode não apenas orientar melhor a sua vida mas também influir, como membro de uma comunidade, nos rumos da própria ciência, pois o alto grau de educação promove, por meio do voto e de hábitos de consumo, a defesa de melhores hábitos e representantes políticos mais adequados, evitando indústrias poluentes, ataques ao meio ambiente, agressividades contra minorias.

No entanto, expressar em linguagem simples e compreensível conceitos muitas vezes complexos em linguagem especializada, sem faltar com a verdade e deixar coisas importantes de lado, termina fazendo com que muitos cientistas reclamem da popularização da ciência, porque infelizmente algumas publicações terminam sendo questionáveis, perigosas ou insignificantes por servirem a outros interesses.

Mas na verdade conhecimento científico é cada vez mais necessário ao cidadão comum, pois no dia a dia necessitamos orientação em muitas de nossas decisões: notícias chegam de várias maneiras, por vária mídias, nem todas confiáveis, e, despreparados para textos escritos por pesquisadores, ficamos na dependência de intermediários, pessoas e entidades que usam meios de comunicação e linguagens para transmitir, aos diversos segmentos da sociedade, notícias nem sempre verdadeiras.

Infelizmente, a popularização de conceitos falsamente científicos pode não ter boas intenções, e não constituírem meras brincadeiras. A incapacidade de entender a diferença entre conhecimento científico e Fake News é denominada analfabetismo científico, ignorância sobre os conhecimentos básicos de ciência e tecnologia indispensáveis para movimentar-se razoavelmente nos tempos atuais.

Alguns cientistas compararam as atividades de algumas pessoas, leigas ou mesmo jornalistas, com um desserviço cruel aos que mal entendem o que leem; e o processo da popularização do conhecimento científico é, de certa forma, complexo, com muitos interesses em jogo, distorções e manipulações.

Como o público considera que os cientistas fazem descobertas essenciais para a sociedade, sobre o universo ou o mundo, e que estas são passadas a todos pelos meios de comunicação, de forma fiel e confiável, isenta de qualquer interesse que não o de divulgar conhecimento e fornecer informações úteis, levam tudo o que recebem, seja por jornais ou WhatsApp, a sério e consideram como verdade absoluta.

É evidente que algum tipo de distorção involuntária pode acontecer, mas em tempos polarizados, nos quais  a divulgação de algumas ideias interessem a determinados grupos, é difícil a tradução de um fato científico ser inteiramente fiel ao original.

Desde as últimas décadas do século 20, parcerias entre as indústrias e universidades vem se intensificando, e portanto a ciência vem sendo cada vez mais utilizada, embora não seja necessário, nem possível, que toda a população tenha nível elevado de informação; há conhecimentos especializados que demandam anos e até décadas para serem obtidos e/ou assimilados devidamente.

O indispensável, e direito de todos, é o conhecimento básico que permita no mínimo a leitura de jornais, o cálculo de despesas, a escolha de bons governantes, o discernimento entre notícias que podem ser reais ou fantasias mirabolantes. Com isso, cada cidadão poderá determinar suas opções, e ser responsável por elas.

Os engenheiros que começam sua carreira em obras convivem com profissionais sem formação acadêmica; são mestres-de-obras, carpinteiros, encanadores e outros, muitos com anos de experiencia e competência. É relativamente comum que alguns destes trabalhadores encarem o novato com ironia, afinal “sabem melhor que ele o que deve ser feito”, o que é uma parte da verdade se aplicada a determinadas atividades, mas não abrange o todo do empreendimento, os cálculos estruturais, hidráulicos, financeiros, o planejamento, que compuseram o projeto em execução e que parece ter nascido por geração espontânea.

Da mesma forma, médicos aprendem a encarar, com algum humor e apreensão, a declaração “sou meio médico” proferida por pessoas leigas, que por terem consultado o doutor Google ou observado o tratamento de alguém próximo acreditam-se novos Hipócrates.   

O atual ditador da Venezuela declara aos brados que a oposição fez um pacto satânico; é evidente que, embora a sanidade pareça mínima, o objetivo é assustar as pessoas mais simples de seu país, e não expressar algo em que ele creia de fato. A facilidade com que dirigentes autoritários utilizam a palavra “comunistas” para ofender seus adversários, sabendo que seu público ouvinte não compreende verdadeiramente o que isso significa, ou seja, utiliza um slogan para desrespeitar e ofender, apostando na desinformação para conseguir votos ou vantagens, são atos tristes e frequentes.

Mais do que nunca precisamos qualidade na educação pública, acessível a todos e que trate a ciência com respeito e propriedade.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.