A timidez costuma atrapalhar crianças, jovens e adultos em todas as fases da vida. Atualmente isso tem se intensificado, pois há certa exigência de que as pessoas sejam desinibidas, falem em público com grande habilidade, “vendendo” ideias ou produtos, sejam alma das festas, apresentem trabalhos escolares ou profissionais com desenvoltura.

A vida amorosa é facilitada por boas abordagens e comunicação, competente utilização da fala e dos signos da linguagem verbal. A palavra timidez vem etimologicamente de medo, que se manifesta em situações de tensão e ansiedade quando alguém precisa se expor, principalmente diante de um público desconhecido ou muto grande; normalmente implica num sentimento de incapacidade, senso de ameaça, apreensão, preocupação ou inquietação, muitas vezes com manifestações fisiológicas como rubor intenso, respiração alterada, distúrbios gastrointestinais, postura rígida, choro, roer as unhas, e o tímido se sente envergonhado.

Timidez é considerada um traço relativamente comum e não uma patologia, exceto quando se torna extremamente acentuada, podendo chegar ao que classificamos como fobia social, que impede a vida normal e necessita tratamento para controlar a autoavaliação negativa em relação a todos os outros, sentimentos de ausência de apoio social e autoestima.

Tímidos participam menos de atividades em público, são menos propensos a contribuições voluntárias e sentem-se mais inibidos e desvalorizados que os demais, reduzindo sua expressividade de fala e projeção da voz, deixando de fazer contato visual com o interlocutor, demonstrando postura tensa.

Até há alguns considerava-se timidez como uma característica sem cura, pessoal e imutável; hoje sabemos que se trata de um distúrbio emocional passível de tratamento, inclusive porque gestos e formas de falar parecem indicar saúde, a expressividade exagerada ou inexpressividade dão indícios fortes de desajuste emocional.

Entretanto, como em tudo que se refere a características humanas é importante discernir o grau e intensidade do que se fala. Existe a timidez “leve” de que todos partilham em algum momento ou situação, não é até mesmo saudável socialmente que todas as pessoas sejam completamente “despachadas”, fazendo em qualquer reunião uma onomatopeia absurda, buscando a todo custo mostrar “sua figura”. A timidez prejudicial é a excessiva, que impede a pessoa de realizar os atos mais comuns da vida como pedir informações, comprar algo, reclamar de atendimento, impor seu ponto de vista quando necessário.

Em salas de aulas, tanto as escolares quanto as de treinamento empresarial, tímidos preferem ter suas dúvidas guardadas para não terem que se expressar, pedir explicação aos professores, mostrar diante de colegas que não entenderam, perdendo assim ocasiões preciosas de aprendizagem e interação com colegas que poderiam ter as mesmas dúvidas e ritmo de raciocínio. Nem sempre professores percebem essas situações, dependendo do tamanho da turma e/ou duração do curso, e acabam não intervindo nessa situação, do que decorre o não desenvolvimento adequado do aluno tímido. Importante lembrar que o processo de aprendizagem é social, e as interações e procedimentos de ensino: o que se fala, como se fala, em que momento e por quê; o que se faz, como se faz, em que momento e por que se faz, afetam profundamente as relações professor-aluno

A timidez na infância, a inabilidade social, podem ser detectadas pelos familiares até mesmo antes da entrada na escola, e no período de estudos, docentes precisam também ter um bom radar para detectá-la, pois são múltiplas as formas de resolução destes problemas. A cooperação família-escola tem papel fundamental em todos os níveis de ensino.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.