Cirurgia devolve autoestima e confiança para adolescentes que sofrem com características físicas

Ceres Battistelli | ceres@comunicore.com.br e @ceresb
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Crédito/foto:  Divulgação Instagram Rafaella Justus

O que muitas pessoas podem considerar uma decisão precipitada ou pura vaidade,  para outras, significa mudar completamente a forma de se posicionar perante os amigos, perante a sociedade e na forma de viver a vida. É o que acontece com adolescentes entre 10 e 16 anos que decidiram realizar a rinoplastia ou outras cirurgias, que durante a vida toda, foi motivo de bullying ou de vergonha. 

Recentemente, Rafaella Justus, de 14 anos –  filha de Ticiane Pinheiro, 47, e Roberto Justus, 69 – realizou uma rinoplastia e corrigiu o desvio de septo e também a estética do nariz. Ela usou as redes sociais para responder o comentário de uma internauta sobre suas cirurgias plásticas.

“Por que a cirurgia do nariz agora? Poderia ser com 18 ou mais. Você é uma criança ainda”, escreveu uma seguidora. Foi então que Rafa explicou a sua decisão, que, segundo ela, contou com total apoio dos pais. “Sinto que não existe idade certa para ter um aumento na autoestima. Eu estava preparada e decidida, e nada me impedia de correr atrás do que eu queria. Foi a decisão certa para mim nesse momento da minha vida”, disse. Ela ainda concluiu em resposta ao comentário: “Não importa a idade. Importa a felicidade”.

A preocupação com o tamanho do nariz é um tema comum entre muitos pacientes e pode ter várias origens genéticas, psicológicas e sociais. “Existem várias razões que levam as pessoas a buscarem um especialista em rinoplastia. O nariz desempenha um papel central no equilíbrio estético do rosto, relacionadas a questões genéticas, psicológicas, sociais, funcionais, além experiências pessoais que podem ser negativas para estes pacientes”, explica a médica otorrinolaringologista, especialista em rinoplastia, Marina Serrato. 

Análise pré-operatória 

De acordo com a médica, a autoestima é um aspecto crucial na vida das pessoas e a rinoplastia tem se destacado como uma forma eficaz de melhorá-la. “Através da rinoplastia, é possível corrigir assimetrias, reduzir ou aumentar o tamanho do nariz, afiná-lo e melhorar a proporção facial como um todo, levando em consideração não apenas a estrutura nasal, mas também a relação entre o nariz, os olhos, as maçãs do rosto e o queixo, buscando alcançar um resultado esteticamente agradável e natural. Essas mudanças estéticas proporcionam aos pacientes uma sensação renovada de autoconfiança”, diz a médica.

Ela reforça que em muitas culturas e sociedades existem ideais de beleza que podem enfatizar características específicas do rosto, incluindo o tamanho do nariz. “Se o nariz de uma pessoa não se enquadra nesses padrões considerados ideais, ela pode se sentir insegura e desenvolver complexos em relação a isso”, argumenta. “Mas isso, claro, deve ser sempre avaliado com relação às proporções faciais, porque não existe um único nariz perfeito e ideal para todos. Como cirurgiões, temos que respeitar as individualidades”, reforça. 

Além disso, comentários negativos ou bullying relacionados ao tamanho do nariz podem ter um impacto significativo na autoestima de uma pessoa. “Algumas pessoas podem ter vivenciado experiências traumáticas ou eventos em que seu nariz tem sido o foco de atenção negativa, o que pode levar a uma grande preocupação com o tamanho do nariz”, aponta a médica.

Estudo sobre autoimagem

Um estudo recente, publicado no Brazilian Journal Of Implantolology And Health Sciences, analisou a interseção entre cirurgia plástica, autoimagem e autoestima, destacando o impacto psicossocial desses procedimentos. Segundo a publicação, a autoestima reflete a percepção e valorização de si mesmo, enquanto a autoimagem é a percepção do próprio corpo. “Ambos estão profundamente interligados e influenciam a saúde emocional e mental. Insatisfação com a aparência pode levar a inseguranças que impactam negativamente a autoestima e a autoimagem. Nesses casos, a cirurgia plástica pode ajudar a melhorar a aparência e elevar a autoestima”, informa a publicação.

A psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental, obesidade e autoimagem, Andreia Tonelli, diz que as experiências  vividas, na infância, especialmente as relacionadas às dificuldades e insatisfações com o próprio corpo podem interferir na percepção que uma pessoa tem e terá de si mesma no futuro e até mesmo do mundo ao redor.

“Elas podem crescer achando que não são suficientes, tendo baixa autoestima, achando que não é digna de respeito por causa da sua aparência, ou ter uma autoimagem distorcida. Essa criança pode evitar situações sociais onde acha que pode ser exposta ou julgada, o que pode levar ao isolamento social e sensação crescente de inadequação”, explica.

Ela explica que a vergonha relacionada à aparência física, seja por um nariz grande, excesso de peso ou qualquer outra característica que a criança ou adolescente perceba como inadequada, pode ter um impacto profundo no desenvolvimento psicológico e comportamental.

“A vergonha é uma emoção muito poderosa, e a criança que se sente envergonhada sobre si mesma pode desenvolver crenças muito negativas, como “eu sou feio”, “sou defeituoso”, “sou inferior aos outros”, “ninguém vai gostar de mim, não importa o que eu faça”.

Essas crenças vão se fortalecendo e podem se tornar muito intensas na adolescência, que é um período de muita vulnerabilidade emocional, o que pode resultar em muito retraimento, isolamento social, timidez excessiva, depressão, ansiedade e outros transtornos”, relata.

A psicóloga acredita que uma cirurgia ou tratamento visando modificação de estilo de vida, na infância e adolescência, podem ser intervenções muito positivas, aliviando o sofrimento causado por características físicas que provocam vergonha, desde que a decisão seja bem avaliada e acompanhada de suporte médico e emocional adequados.

“Nesse processo todo, também é importante que sejam trabalhadas as expectativas do adolescente de forma realistas, compreendendo sempre que a aceitação vai muito além da aparência física”, completa Andreia

Adolescentes que passaram pelo procedimento comemoram 

Isabella Muchenski Cruz fez a cirurgia de rinoplastia com 16 anos, mas desde os 10 anos de idade se  sentia incomodada com o seu nariz. “Meu nariz tinha abas largas, era torto para direita , quanto eu tirava foto tinha vergonha. Ele tinha a ponta gordinha, a giba grande, era uma coisa que eu não gostava em mim desde novinha. Sempre odiei que outras pessoas tirassem foto de mim com a câmera traseira do celular porque meu nariz sempre ficava torto. Também não usava o cabelo preso porque destacava o nariz e eu escondia o nariz com o cabelo solto e eu queria mudar isso”, lembra.

Depois de passar pela cirurgia, segunda ela, tudo mudou. “Hoje eu uso muito cabelo preso, consigo me apresentar para as pessoas de uma forma mais confiante. E em relação as fotos não tenho mais medo de que tirem fotos de mim. Além disso, meu nariz não tranca mais como antes e estou muito feliz, estou me sentindo maravilhosa. É incrível descrever como me sinto melhor”, relata.

Já Beatriz Lazolli começou a sofrer aos 10 anos com comentários de pessoas próximas. “Eu odiava meu nariz, era grande e com a ponta sem definição. Mas não deixei de sair e de viver por uma questão estética. Aí entrei na adolescência e os comentários e o bullying sobre o meu nariz começaram a se agravar mais. Cheguei para a minha mãe, chorei e implorei para fazer a cirurgia. Quando fiz 14 anos comecei a pesquisar e descobri que após a menstruação eu poderia operar”, relata.

Ela encontrou a dra Marina Serrato e realizou o procedimento aos 14 anos. Segundo Beatriz, tudo mudou, a vontade de sair, de tirar fotos, ela começou a se valorizar mais. “Fico me perguntando o quanto eu ia ficar triste e o que teria ouvido se tivesse esperado mais tempo para operar. Talvez teria sido uma adolescente infeliz. Por isso, digo para os pais ouvirem seus filhos, porque isso faz toda a diferença”, conta. 

Crédito/foto: Divulgação Dra Marina Serrato

Sofia Castilho Precoman, de 16 anos, pedia para os amigos e familiares apagarem todas as fotos em que ela aparecia. Sentia vergonha de olhar para o nariz. Em abril de 2024 convenceu os pais de que a cirurgia mudaria a sua vida e realmente mudou. “Com a cirurgia a minha auto estima melhorou muito mesmo. Hoje eu me sinto muito melhor comigo mesma e a minha confiança mudou demais comigo mesma é inexplicável. Hoje eu gosto do que eu vejo”, avalia.