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A obesidade é uma das principais causas de infertilidade em mulheres que têm o sonho de se tornar mães, tendo em vista que a doença pode levar a desequilíbrios hormonais que afetam a ovulação.

Segundo levantamento com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), do Ministério da Saúde, a obesidade cresceu entre a população de mulheres em idade fértil nos últimos anos. Em 2022, já são 33,6% da população monitorada pelo sistema ante 27,5% em 2018.

Além disso, a obesidade aumenta o risco de complicações na gestação, como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia. No entanto, a perda de peso – seja pelo tratamento clínico ou cirúrgico – pode ajudar as mulheres a perder peso e melhorar a saúde reprodutiva.

Perder peso antes da gravidez é o ideal

Especialistas de diferentes sociedades médicas que atuam no tratamento da obesidade são unânimes em dizer que a doença é fator determinante para uma gravidez de alto ou baixo risco e, até mesmo, para a melhora da fertilidade.

“A redução de peso proporcionada pela cirurgia bariátrica pode melhorar a fertilidade feminina, já que o excesso de tecido adiposo interfere na produção hormonal dos ovários e dificulta a ovulação”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Antônio Carlos Valezi. “Além disso, a perda de peso proporcionada pela cirurgia gera a remissão de doenças como diabetes, hipertensão e outros”, completa.

O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Dr. Paulo Miranda, também comenta a importância da avaliação antes e depois da perda de peso e do acompanhamento com especialistas.

“Se a mulher tem sobrepeso ou obesidade e tem dificuldade de engravidar, ela precisa fazer uma análise. Pode começar com o ginecologista e endocrinologista, que irão fazer uma avaliação do motivo pelo qual ela apresenta aquela dificuldade de fertilidade, aquela alteração do ciclo menstrual”, orienta. Segundo ele, uma das principais comorbidades associadas à obesidade é a síndrome dos ovários policísticos, em que ocorre a falta de ovulações e o tratamento muitas vezes consegue reverter. Ele reforça que a perda de peso eficaz antes da gravidez reduz o risco durante a gestação para a mãe e o bebê, que pode crescer mais do que o esperado, interferindo no no momento do parto, entre outros problemas.

Mães que superaram o câncer comemoraram data especial

O câncer em determinados órgãos do corpo pode, muitas vezes, tornar o paciente infértil, quando a quimioterapia ou a radioterapia ocasionam a morte dos óvulos ou trazem danos a outros órgãos do sistema reprodutivo. No entanto, tratamentos atuais possibilitam às mulheres, em alguns casos, tratarem o câncer e, posteriormente,se tornarem mães.
Felizmente a fisioterapeuta Camila Vaticola, de 28 anos, faz parte deste grupo. Quando descobriu um câncer de mama, ela tinha como principal preocupação o risco da infertilidade. “Eu sempre tive o sonho de ser mãe, de uma gestação minha. Quando engravidei, meu corpo ainda tinha efeitos do tratamento, eu achei que não estava ovulando. Foi um presente do céu, o maior marco de toda essa jornada. Meu filho é o troféu de todo esse caminho dolorido e sofrido que foi o câncer”, conta.

Transposição uterina
Já a maquiadora, Carem dos Santos Neves, de 33 anos, descobriu um Lipossarcoma na pelve, em 2018. A radioterapia afetaria o seu útero, impedindo uma futura gestação. Foi quando ela soube da técnica de transposição uterina, na época ainda um estudo em andamento, mas que poderia preservar o órgão para uma gravidez posterior. “Eu sabia que a radioterapia iria afetar meu útero e arrisquei realizar a cirurgia de transposição em busca de um SIM para a possibilidade de ser mãe, porque o NÃO eu já tinha. Quatro anos depois do tratamento contra o câncer, fiquei grávida”, relembra.
A técnica de transposição uterina – que preserva o útero durante a radioterapia na região pélvica – foi desenvolvida pelo o cirurgião oncológico de Curitiba, Dr. Reitan Ribeiro. A ideia era garantir a possibilidade de ser mãe às mulheres jovens que passaram pelo câncer “Trata-se de uma cirurgia que retira o útero do seu local original e o reposiciona na parte de cima do abdômen, para preservá-lo durante o tratamento. No final das sessões de radioterapia, os órgãos reprodutivos são realocados no local original”, explica o médico que atua no Eco Medical Center e é membro do Instituto de Cirurgia Robótica do Paraná (ICRP).
A transposição pode ser indicada para aquelas que precisam de radioterapia devido a tumores no reto, intestino ou vagina e casos de sarcomas, que são tumores malignos em tecidos moles, como os músculos, gorduras e tendões.

Importância de manter exames em dia

Em todo o Brasil são esperados 625,9 mil diagnósticos de câncer a cada ano, sendo 316,2 mil em mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apenas no Paraná o total de casos chega a 35 mil, com 16 mil mulheres afetadas ao ano. Estudos estimam que, do total, 13% das neoplasias afetam mulheres em idade fértil, abaixo dos 50 anos de idade.

O médico mastologista do Eco Medical Center, Dr. Rodrigo Bernardi, explica que a recomendação para mulheres que tiveram câncer é aguardar dois anos após o tratamento para engravidar. “Isso porque cerca de 75% das pacientes em tratamento têm indicação de tomar um bloqueador hormonal que é teratogênico. Então, se ela quiser engravidar, orientamos esperar um tempo de pausa da medicação”, afirma Rodrigo.

Ele reforça que, mesmo gestante, é importante manter os exames de acompanhamento e as consultas com o médico mastologista e oncologista.