Pessoas com problemas cardiovasculares têm queda de 20% no risco de AVC e infarto com uso da semaglutida

Mais de 17 mil pessoas a partir dos 45 anos de idade participaram do estudo, seguindo critérios referentes ao peso e ao histórico de doenças cardíacas

Ceres Battistelli

O médico André Vianna (Foto: Divulgação)

Um novo estudo comprova que o uso da semaglutida 2,4mg pode reduzir em 20% os riscos cardiovasculares, como acidente cardiovascular cerebral (AVC), infarto no miocárdio e morte cardiovascular. Mais de 17 mil pessoas a partir dos 45 anos de idade participaram do estudo, seguindo critérios referentes ao peso e ao histórico de doenças cardíacas. 

A semaglutida, mesmo princípio ativo do Ozempic e Wegovy, já tem seus benefícios comprovados no tratamento do diabetes e é usado também no tratamento da obesidade. O médico endocrinologista André Vianna, conta que os resultados positivos deste novo estudo são considerados como uma conquista no tratamento da obesidade. “Sempre soubemos que tratar a obesidade com foco na redução de peso e melhora da qualidade de vida traria mais saúde para as pessoas e menos complicações em todas as áreas, inclusive com efeitos cardiovasculares. Agora, esse estudo vem para comprovar que o uso da semaglutida no tratamento também tem potencial para reduzir o risco de infarto e AVC. Esse é o primeiro medicamento da história a alcançar um resultado positivo tanto no controle da obesidade quanto na redução de riscos cardiovasculares”, explica. 

A relação com a obesidade vai além da semaglutida. O índice de doenças cardiovasculares em pessoas com essa condição crônica é muito maior. O acúmulo de gordura aumenta o risco de entupimento de veias e artérias, o que pode levar a quadros de infarto e AVC. “Quando temos um medicamento que atua tanto na doença, quanto na redução desses riscos, a expectativa de sucesso e saúde é muito maior”, afirma Vianna. 

Pessoas com obesidade ou sobrepeso devem procurar o acompanhamento médico de um endocrinologista para avaliação e tratamento adequado. O estudo completo deve ser divulgado pela farmacêutica no próximo mês. 

Aumento dos casos de AVC entre jovens 

A campanha “Agosto Azul Vermelho” está sendo marcada pela conscientização e prevenção das doenças vasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), trombose venosa profunda, pé diabético, doença arterial obstrutiva periférica (daop), linfedema, entre outras. 

Um estudo recente divulgado na revista Nature revela que, além dos primeiros 30 dias após a infecção por COVID-19, as pessoas infectadas têm risco aumentado de doenças vasculares, incluindo distúrbios cerebrovasculares, disritmias, doença cardíaca isquêmica e não isquêmica, pericardite, miocardite, insuficiência cardíaca e doença tromboembólica. Os riscos foram apresentados mesmo entre as pessoas que não foram hospitalizadas durante a fase aguda da infecção, e aumentam de forma gradual se a pessoa foi hospitalizada ou internada na UTI. 

“É muito importante que as pessoas estejam atentas aos sinais das doenças vasculares. O AVC, por exemplo, é a segunda maior causa de morte no Brasil, e os principais sintomas são fraqueza, formigamento de face, braços e perna, especialmente em apenas um lado do corpo, confusão mental, alteração de fala e alteração de visão”, explica o cirurgião vascular Gustavo Gern Junqueira, do Eco Medical Center. Ele também destaca a diferença entre os dois tipos de AVC, o isquêmico – quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais – e o hemorrágico, caracterizado pelo rompimento de um vaso sanguíneo cerebral. 

Campanha Agosto Azul Vermelho

A campanha é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular para incentivar o brasileiro a cuidar da saúde vascular. Mudanças de hábitos de vida, como praticar atividade física diariamente e adotar uma alimentação saudável são as principais formas de prevenir o surgimento de doenças vasculares e também de doenças crônicas como obesidade e diabetes tipo 2 – as quais apresentam grande incidência de doenças vasculares. “Vale ressaltar que algumas doenças são silenciosas e por isso o acompanhamento com cirurgião vascular deve ser regular, a fim de identificar e tratar a doença de forma precoce”, finaliza.