Não é a primeira vez que a indústria de games tem um lançamento de proporções cinematográficas, mas, quando “Gran Theft Auto IV” (GTA IV) chegou às prateleiras dos EUA e da Europa em maio, algo maior do que o impacto de um jogo muito aguardado parecia ocorrer.

Peitando de frente com o primeiro grande lançamento hollywoodiano do verão no Hemisfério Norte (a adaptação para o cinema do super-herói “Homem de Ferro”), o game consolida uma tendência do mercado de entretenimento. Se a indústria de games já ultrapassou suas parceiras do cinema e da música nos quesitos lucro e unidades vendidas, com GTA IV um único título fez, em grande escala, o que antes apenas filmes e bandas faziam: movimentar corações e mentes em torno de um grande nome.

A indústria da música teve sua fase de ouro entre as décadas de 1950 e 80, quando, de Elvis Presley a Michael Jackson, artistas geravam cifras bilionárias, fazendo com que discos e turnês fossem ansiosamente aguardados por multidões. Com o cinema, esse salto aconteceu a partir do início da era dos blockbusters, inaugurada com “Tubarão” e, depois, “Guerra nas Estrelas”, com filas nos cinemas dias antes da estréia.

Hoje são os games que movimentam esse tipo de paixão. O negócio é tão sério que o jogo de tiro em primeira pessoa Halo 3, para Xbox 360, teve o lançamento mais bem-sucedido da história do entretenimento, batendo a estréia do filme “Homem-Aranha 3”, recordista até então.

Desde o advento do MP3, a indústria fonográfica gira em círculos em busca de uma solução para a crise que a popularização da música digital lhe apresentou – e nenhum artista parece surgir como próximo campeão de popularidade, seja em vendas ou em downloads.

O cinema, por outro lado, atravessa uma crise criativa: enquanto os independentes vivem uma fase áurea (que, no entanto, não se traduz em dinheiro como os grandes estúdios que hoje os bancam esperavam), os grandes filões comerciais na telona são sucessos de outras mídias, sejam os filmes de super-herói (que surgiram nos quadrinhos) ou de série de livros (notadamente a série “Harry Potter” e a trilogia “Senhor dos Anéis”).

Os games, por sua vez, apresentam universos novinhos em folha, personagens originais que não vieram de outras mídias e marcas que, aos poucos, estão deixando nomes que antes eram medalhões imbatíveis (sejam os Beatles ou Indiana Jones) em segundo plano, quando o assunto é faturamento e engajamento dos fãs. “GTA é único pois atrai um público enorme”, afirmou Aaron Greenberg, um dos responsáveis pelo Xbox 360 e pelo ambiente online Xbox Live, em declaração à agência Reuters.

As grifes de games – como GTA, Super Mario, Street Fighter e Resident Evil – já há algum tempo despertam esse tipo de fanatismo. Se antes eram artistas e filmes que movimentavam o lado passional da indústria de entretenimento, hoje são as grifes de games que falamos nesta edição.