THALES DE MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Neste ano no qual a Mulher-Maravilha brilhou em seu filme individual e também ao lado dos marmanjos superpoderosos na estreia da Liga da Justiça no cinema, um terceiro longa relacionado à heroína dos gibis chega às telas. E é um dos melhores da temporada.
“Professor Marston & As Mulheres-Maravilhas” é um drama que reconstitui a vida de William Moulton Marston, um professor de psicologia que escreveu as primeiras aventuras da personagem em 1941.
Desde o final da década de 1920, ele vivia com duas mulheres: Elisabeth Marston, com quem era casado, e Olive Byrne, sua amante. Características das duas inspiraram a criação da heroína.
O filme dirigido pela cineasta feminista Angela Robinson, uma das produtoras do seriado “L Word” (2004-2009), apresenta uma versão romanceada da trajetória real de Marston. Não foi necessário muito trabalho para criar um roteiro atraente. A vida do psicólogo e quadrinista já foi bastante rica em passagens incríveis.
Ainda nos anos 1920, Marston e a mulher trabalhavam na invenção de um detector de mentiras (e tiveram sucesso, marcando bobeira ao não patentear o aparelho). Para pesquisas, contrataram uma assistente, Olive, então aluna de Marston.
Espíritos livres, como se definiam, ele e Elisabeth se encantaram pela jovem e começaram um relacionamento a três, em que as mulheres eram bissexuais. Na verdade, embora Marston tenha se interessado por Olive desde a primeira hora, é a paixão da jovem por Elisabeth que dispara de vez a relação deles.
Apoiadores de causas feministas, os três dividiram as pesquisas e a criação dos quatro filhos com jogos sexuais ousados.
A busca por quebrar limites levou o trio a ambientes de perversão sadomasoquista. E, quando perdeu o emprego de professor, pelo escândalo de sua relação com duas mulheres, Marston passou a escrever as histórias em quadrinhos misturando mitologia grega, feminismo e pornografia.
Pois é, os primeiros gibis da Mulher-Maravilha tinham quadrinhos de pornô soft, com a heroína volta e meia amarrada e torturada pelos vilões. Essa carga erótica foi quase totalmente excluída da produção das revistas depois da morte de Marston, em 1947, em decorrência de um câncer.
Os ingredientes mais curiosos do filme, e às vezes não exatamente fiéis à história real, são as referências da vida pessoal que Marston teria inserido nas aventuras da Mulher-Maravilha.
Ele não teve um avião de brinquedo feito de plástico transparente como aparece na tela, o que poderia ter inspirado o avião invisível que a heroína pilota nos quadrinhos. Mas o uniforme dela foi realmente desenhado a partir de roupas de couro estilo sex-shop que Olive vestia para suas transas.
A melhor sacada é o laço mágico da Mulher-Maravilha, aquele que obriga as pessoas presas nele a dizer somente a verdade. O item é uma mistura do detector de mentiras que o casal Marston criou com as cordas que o trio usava para se amarrar em suas brincadeiras de dominação.
Num roteiro de cenas desafiadoras, o elenco vai muito bem. O galês Luke Evans, como Marston, e a australiana Bella Heathcote, no papel de Olive, tem ótimas atuações. Mas quem rouba a atenção é a inglesa Rebecca Hall. Charmosa e bonita, sem se encaixar nos padrões estéticos mais convencionais, ela é o dínamo sexual de um filme que realmente pode excitar a plateia.
Falando de gibis, “Professor Marston & As Mulheres-Maravilhas” é diversão engenhosa para adultos. Ao lado do blockbuster “Mulher-Maravilha”, é um dos grandes filmes do ano.

PROFESSOR MARSTON & AS MULHERES-MARAVILHAS (Professor Marston and the Wonder Woman)
Direção: Angela Robinson
Elenco: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote
Produção: EUA, 2017, 16 anos
Quando: estreia nesta quinta
Avaliação: ótimo