Podem ser coincidências as semelhanças entre Gioconda, de “Duas Caras”, Milu, de “Cobras & Lagartos” (2006), Rafaela, de “Brega & Chique” (1987), e até Shirley, de “O Cafona” (1971). As comparações entre a milionária da novela da Globo e os tipos que Marília Pêra fez no passado, contudo, não escapam nem do olhar da intérprete. A atriz coloca a socialite na galeria que expõe as mulheres mais “surtadas” e divertidas que já viveram na televisão.

Gioconda entrou em cena como uma das damas mais respeitadas da alta sociedade carioca, que só desce do salto para praticar o esporte preferido, a fofoca. “Gioconda tem um desequilíbrio emocional e não sabe qual é a razão do problema. De vez em quando, ela perde a pose e toma uns remedinhos (tranqüilizantes) para controlar isso. Só que toma e desmorona, desmaia, diz bobagem, dorme em ocasiões em que deveria ficar acordada”, conta Marília.

A mulher do advogado corrupto Barretão (Stênio Garcia) também se ocupa tentando descolar bons partidos para os filhos, Júlia (Débora Falabella) e Barretinho (Dudu Azevedo) – a perua quer que a dupla se case para encher a mansão de netos. Mas a história de amor da garota desagrada Gioconda.

Depois que a estudante de Cinema se envolveu com Evilásio (Lázaro Ramos), ela mostrou todo o seu preconceito por conta da diferença social e racial entre a filha e o morador da favela Portelinha. E o barulho vai aumentar quando a jovem engravidar do namorado. O que diferencia o preconceito da matriarca do sentimento do restante da família é o toque de humor que pontua suas cenas.

“Outro dia, eu, Wolf (Maya, diretor) e Débora estávamos gravando cenas dela e choramos de rir. Apesar de ser um personagem sério, faz o telespectador se divertir porque ela é uma louca dentro do conservadorismo em que vive”, diz Marília. “Ela não é caricata. Todo mundo tem sua dose de humanidade, e é nisso que o autor deve investir”, completa Aguinaldo Silva.

Contabilizando mais um papel cômico no currículo, a atriz diz que aprendeu a fazer rir na infância. “Não digo que seja um dom, mas que tive a sorte de, quando criança, ver muitos comediantes bons por causa do meu passado de filha de gente de teatro (ela é herdeira dos atores Manuel Pêra e Dinorah Marzullo). Assisti a Dulcina (de Morais), Eva Todor, Dercy Gonçalves, e isso me ensinou a ver o humor mesmo nas coisas sérias.”

E o bom humor não a acompanha só no trabalho. Uma das estrelas da primeira novela da Globo em alta definição – que, entre outros atributos, denuncia rugas e marcas de expressão – não perde a piada.

“Isso é um perigo. Pega tudo de bom, mas tudo de mau do ator também. Eu não paro de abraçar e beijar os iluminadores para depois pedir para eles me ajudarem. O maquiador, então, virou meu melhor amigo nesse momento. Sou um dinossauro, peguei a TV do nada e agora imploro para me salvarem da alta definição (risos). Se não funcionar, vou pedir para gravar de burca, como já disse a Renata (Sorrah).”